Petróleo... até quando ?

(Uma visão bastante simples, tendo como base as estatísticas atuais e a comparação entre as reservas, a produção e o consumo do petróleo e uma perspectiva futura levando em conta o uso de seus derivados)

Com o aumento da frota de transporte em todo o mundo e principalmente com a grande demanda de veículos nos centros urbanos, a pergunta que as vezes fazemos; é até quando haverá petróleo para obtermos combustível para tanta energia?.

Uma distribuição das principais fontes de energia nos leva ao gráfico 1, o qual apresenta uma boa visualização do consumo progressivo das principais fontes energéticas.

Como pode ser observado, o petróleo lidera e continuará liderando o ranking das fontes energéticas. Outras fontes de energia também terão bastante destaque no próximo século, como a energia eólica, hidráulica, solar e biomassa, isso sem contar com os avanços relativos ao hidrogênio. Porem, mesmo se em uma escala relativa tiverem um crescimento maior que o petróleo e o gás natural, isso pouco significará tal o vulto de consumo imposto pelo petróleo, e cujos passos estão sendo seguidos pelo gás natural.

O aproveitamento e aplicação das mesmas linhas de tecnologia, o investimento diversificado que vem sendo feito pelas grandes companhias de petróleo em exploração e produção do gás natural, farão do mesmo um parceiro potencial do petróleo num primeiro momento e depois, seu herdeiro natural. Assim sendo, deve ser benvinda a utilização de novas fontes de energia, as quais competirão com o petróleo e o gás natural, estabelecendo uma divisão mais eqüitativa durante o decorrer dos anos tanto no aspecto de distribuição do consumo como nos custos produtivos. Especificamente no que diz respeito ao maior consumo do petróleo, que é o setor de transporte, as alternativas de minimizar este consumo, aparecerão com o carro a gás e o carro híbrido.

 

GRAFICO 1 –Fonte: Energy International Agency – Forecast to Energy Consumation - 1996

 

As Reservas de Petróleo

A razão entre as reservas provadas e a produção dos últimos anos estão entre 40 e 42 anos, o que significa, se a produção permanecer no mesmo nível de cada ano anterior, as reservas atuais comprovadas, durariam por mais 40 ou 42 anos. Isso levaria aos mais pessimistas a acreditarem no fim do petróleo por volta de 2038 a 2040.

Porem, estudos realizados no campo de prospeção do petróleo, e que levam em conta uma série de fatores, entre os quais destacamos:

      1. Descobertas e exploração do petróleo no Golfo do México,
      2. Reaproveitamento dos antigos campos de petróleo, com a utilização de novas tecnologias,
      3. Recursos existentes de petróleo extra bruto, petróleo betuminoso e xisto betuminoso, cuja computação como reserva está aguardando a melhor solução técnico econômica e porque não dizer, o interesse político das grandes nações, poderão, propiciar um aumento considerável na sobrevida do chamado ouro negro.

 

 

GRÁFICO 2 – Fonte: Bristhol Petroleum – BP statitical review of world energy 1999

O gráfico 2, mostra a evolução das reservas de petróleo nos últimos anos, e o valor quase constante na razão entre as reservas e a produção nos últimos 6 anos. Não entraremos no mérito de como essas reservas são computadas como reservas provadas, pois a própria maneira de calculá-las já foi por diversas vezes colocada em discussão, pois quase sempre não passavam de instrumentos especulativos das grandes companhias ou de governos, para manterem certas posições perante os acionistas e a política internacional ( artigo de David F. Morehouse – Energy Information Administration – July 1997).

 

Na verdade , se computadas as reservas de petróleo bruto convencionais restantes a descobrir ( leves e pesados ), a recuperação de antigos campos possíveis de produção com novas técnicas de reaproveitamento como injeção de gás, vapor e água, exploração offshore de poços profundos com utilização de robôs, mais os pesados não convencionais como os asfalticos canadenses, o extra pesado venezuelano e os estimados em xisto betuminoso do Brasil e Estados Unidos, as perspectivas de duração do petróleo e consequentemente o mundo que o envolve pode chegar aos 135 a 140 anos, levando em conta o nível de produção atual.

Tabela 1- Soma das atuais perspectivas no futuro da utilização do petróleo.

Volumes

Gb = 10^9 barris

Gt = 10^9 ton

Duração ao ritmo atual

de produção em anos

Reservas Provadas

900 – 1000 Gb

( 129 – 143 Gt )

41 - 45

Reservas de Pesados

Convencionais restantes

a descobrir

 

500 – 600 Gb

( 70 – 86 Gt )

 

22 – 28

Acréscimo pela recuperação

de poços desativados

 

730 Gb

( 104 Gt )

 

32

Pesados e extra pesados

não convencionais

Canadense e Venezuelano

 

 

540 Gb

( 77 Gt )

 

25

Xisto betuminoso

Brasil e Estados Unidos

 

500 Gb

( 70 Gt )

 

22

Total

3170 – 3370

( 451 – 480 Gt )

134 - 144

Adaptado de N. Alazard et L. Montardet – Ressources pétrolières pour le XXI siècle – Institut

Français du Pétrole.

Observações:

  1. A produção total em 1998 foi de 3389 Mt, o que nos leva aos valores do quadro acima ( 465x 109/ 3389 x 106 = 137 anos.
  2. O consumo e a produção tem se eqüivalendo durante os últimos anos, portanto quando se fala em produção pode-se entender por consumo e vice-versa. Ao contrário do que muitos apregoam, não existe estoque considerável de petróleo, e sim em alguns países, é um certo valor acumulado de derivados regulamentados como a gasolina, o Diesel e o querosene de aviação.

1993

1994

1995

1996

1997

1998

Produção 106 Ton.

3182

3224

3266

3362

3469

3518

Consuno 106 Ton.

3136

3192

3224

3312

3386

3389

Fonte: Bristhol Petroleum – BP statistical review of world energy for 1999

1Tep ( tonelada equivalente de petróleo ) = 1,428 Tec = 11,63 MWh =39,7*10^6 BTU

 

A evolução do aumento da demanda e uma estimativa da duração do petróleo torna-se um prognóstico bastante difícil de ser feito, principalmente para o longo período que procuramos enfocar. Contudo baseado nas estatísticas do consumo mundial do petróleo e seus derivados, na queda do consumo em países desenvolvidos e no aumento considerável nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, onde o consumo do petróleo na ultima década aumentou quase em 36%, enquanto no consumo mundial não passou dos 14%, variando entre 0,8% e 2,4 % em alguns anos, nos faz tomar certas taxas para uma melhor análise. Só para efeito de entendimento, entre 1986 e 1996, o consumo aumentou de 2893 Mt para 3362 Mt, ou seja 16,2% no período, em média 1,51% ao ano.

Levando então em consideração as previsões do EIA ( Energy Information Administration ) no International Energy Outlook de 2000, temos a seguinte previsão de crescimento do aumento do consumo, relacionado com o aquecimento ou não da economia mundial.

Tabela 2 - Comparação das taxas de crescimento do consumo mundial de energia

1990 – 2020 – Por Combustível

Combustível

Baixo

Crescimento

Referência

Alto

Crescimento

- Petróleo

1,1 %

1,9 %

2,7 %

- Gás Natural

2,5 %

3,2%

4,0 %

- Carvão

0,3 %

1,6 %

2,5 %

- Nuclear

-0,8 %

-0,3 %

0,2 %

- Outras

1,2 %

2,1 %

2,8 %

Fonte : International Energy Outlook – 2000 – Forecast Comparisons Appendix C- Table C1

 

Baseado na tabela das taxas de variação anual, para os três casos de crescimento, podemos elaborar tanto o gráfico do comportamento da variação das taxas anuais de demanda para 1,1 % , 1,9 % e 2,7% e também o gráfico do consumo total acumulado durante os anos.

Isso nos leva aos dois gráficos seguintes, Gráfico 3 e gráfico 4, sendo o último nada mais do que uma integração das curvas exponenciais das taxas de consumo.

 

 

 

Gráfico 3 – Evolução das taxas de demanda


Grafico 4 – Consumo total de petróleo para diversas taxas de demanda anuais

Conclusões:

1 - Tomando como base o valor total das atuais e possíveis reservas de 480 bilhões de toneladas de petróleo, como verificado na tabela1, dependendo do ritmo do crescimento do consumo, inerente ao crescimento econômico, podemos ter petróleo para mais 54 ou 83 anos .

2 – É de se esperar, pelo menos nos países industrializados, com a evolução tecnológica e a utilização de outras fontes de energia, que o consumo do petróleo tenda a diminuir considerávelmente, o mesmo porém não se pode afirmar para os países emergentes.

3 – Com a expectativa cada vez maior da escassez do petróleo, o preço do mesmo poderá subir vertiginosamente, o que por outro lado, aumentará a expectativa de uma diminuição do consumo, com aumento do tempo de duração do mesmo.

Em todo caso, o estudo acima servirá para uma maior reflexão do prezado leitor, principalmente cada vez que der partida no seu carro ou parar para abastecer em um posto de gasolina.

 

Eng.Ί Antonio G. de Mello Jr – formado em engenharia mecânica pela FEFAAP em 1973